terça-feira

Pequenos poemas

Se é sem dúvida Amor esta explosãode tantas sensações contraditórias;a sórdida mistura das memórias,tão longe da verdade e da invenção;o espelho deformante; a profusãode frases insensatas, incensórias;a cúmplice partilha nas históriasdo que os outros dirão ou não dirão;se é sem dúvida Amor a cobardiade buscar nos lençóis a mais sombriarazão de encantamento e de desprezo;
não há dúvida Amor, que te não fujoe que, por ti, tão cego, surdo e sujo,tenho vivido eternamente preso!

David Mourão Ferreira

Eis o centro do corpo o nosso centro onde os dedos escorregam devagar e logo tornam onde nesse centro os dedos esfregam - correm e voltam sem cessar
e então são os meus já os teus dedos
e são meus dedos......



O poeta é um fingidor.Finge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,Na dor lida sentem bem,Não as duas que ele teve,Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razão,Esse comboio de cordaQue se chama coração.
Fernando Pessoa